“Air”: como a Nike transformou um tênis em ícone cultural

Ben Affleck, além de protagonizar filmes de sucesso, costuma entregar projetos incríveis como diretor. Seu mais recente trabalho já está sendo elogiado pela crítica por transportar o espectador para os anos de 1980, um momento em que a Converse dominava as quadras de basquete e a Nike buscava o seu próprio espaço no esporte. 

O filme Air: A história por trás do logo mostra os desafios enfrentados pela Nike, o “patinho feio” entre as grandes marcas do ramo esportivo da época, para convencer o lendário jogador de basquete Michael Jordan, então estreante na NBA, a assinar com a empresa e criar um dos produtos mais reconhecidos do meio esportivo, o Air Jordan. Além de dramatizar a negociação do jogador, o que mantém o espectador preso do início ao fim, a análise da importância do branding ao longo do filme merece destaque. 

No mundo dos negócios, o branding é uma estratégia crucial para o sucesso de uma empresa. É através dele que se constrói e fortalece a identidade de uma marca, com o objetivo de torná-la reconhecida e valorizada pelo público. Ao contar a história do icônico Air Jordan, o filme explora como uma empresa pode transformar um simples produto em um ícone cultural, através da criação de um símbolo reconhecido mundialmente. 

E como a Nike conseguiu transformar um tênis em objeto de desejo até para quem não é fã de basquete? 

 

1. Ousadia 

Não dá para negar que foi uma decisão arriscada da empresa contratar um “calouro”, mesmo sendo inegavelmente talentoso, mas a ousadia extrapolou a escolha do “garoto propaganda” chegando ao design do tênis. O primeiro modelo Air Jordan começou a ser produzido nas cores vermelho e preto, representando o time de Michael, o Chicago Bulls, mas não demorou muito para a decisão gerar polêmica na NBA. A liga de basquete permitia que os jogadores usassem apenas tênis brancos em quadra e essa decisão fez com que a Nike recebesse uma notificação pela quebra de regras. Aproveitando a atenção da mídia, a empresa desenvolveu uma campanha que ficou conhecida como “Banned” (“banido”, em português), gerando ainda mais burburinho.  

 

2. Storytelling 

Toda a divulgação do tênis era focada no desempenho do jogador. Um exemplo dessa estratégia é que em 1988, com as vendas a todo vapor, a Nike decidiu transformar a colaboração em uma marca própria para os produtos que levam o nome de Michael, chamada de “Jumpman”.  

A escolha do termo fica muito clara quando vemos comentaristas da época usando o termo “Jordan do ar”. Em uma busca rápida na internet, você encontra registros de Michael no ar, pulando, como na logo do tênis.  

 

logo air jordan versus a foto de inspiração

 

À medida que Jordan foi ganhando seu espaço como um dos maiores jogadores de todos os tempos, cada tênis desenhado e produzido continha uma história sobre a vida ou carreira do jogador de basquete. Com o storytelling, o tênis deixa se ser apenas um novo modelo e passa a ter um valor emocional para quem compra o modelo, como se a pessoa pudesse adquirir superpoderes, assim como o jogador, e conquistar o que quiser.  

 

3. Cocriação

No filme, uma das falas mais marcantes é a do executivo de marketing esportivo da Nike, Sonny Vaccaro. Durante a apresentação da proposta para a família Jordan, ele diz, “um par de tênis é só um tênis, até que ele seja calçado por alguém”, e para o Air Jordan, essa frase se encaixa como uma luva. 

O jogador pôde sugerir alterações para que o tênis ficasse ainda mais confortável para os jogos, valorizando Michael e a sua liberdade, algo essencial para um jovem que está começando sua carreira. Por isso, mesmo com uma multa de 5 mil dólares por jogo, a imagem do “rei do ar” usando tênis com a logo Jumpman resultaram em cinco vezes mais vendas para a Nike. 

 

Depois do primeiro Air Jordan, outros 33 modelos foram lançados e se tornaram itens de colecionador. Recentemente, o Fashion TikTok – nicho de moda dentro do aplicativo – trouxe de volta o tênis como um item de moda e ele já é considerado uma peça atemporal, transcendendo gerações.  

 

 

Helena Antunes
Analista de Comunicação

 

 

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