Biodiversidade vira padrão GRI: reflexões de uma relatora

Ao longo de quase duas décadas produzindo relatórios de sustentabilidade, acúmulo aprendizados e muitas histórias para contar. Ouso dizer que sou praticamente fluente na sopa de letrinhas que alimenta nosso dia a dia: GRI, ODS, IIRC, IFRS, SASB, TCFD, CSRD, PG, COP, ESG e por aí vai. Poxa, mas em quase 20 anos não deu pra ficar fluente ainda? É que, como dizia minha saudosa mãe, quem garante que sabe tudo, certamente sabe muito menos do que deveria.  

Ainda mais em se tratando de ESG, movimento que tem ganhado força nas organizações nos últimos anos e contribuído para dar visibilidade a tantas diretrizes, frameworks, padrões e normas, alguns deles se consolidando como pré-requisitos obrigatórios para a longevidade dos negócios. Realmente, são muitos caminhos, para os desafios que vêm se tornando enormes e mais complexos a cada ano. Com o adicional de que as diretrizes e normas que não se mantiverem “vivas” e atualizadas em relação aos desafios não terão mais espaço.  

Nesse sentido, a GRI, uma das principais e mais completas normas para elaboração de relatórios (e minha queridinha, confesso), lançou seu Padrão de Biodiversidade em 1º de fevereiro de 2024. O documento, apresentado em um evento online do qual participei, é uma resposta à pressão sem precedentes que a natureza enfrenta e tem a missão de apoiar organizações em todo o mundo a divulgar de forma abrangente seus impactos mais significativos na biodiversidade, não só em suas operações, mas também na sua cadeia de valor – que, aliás, tem sido incluída em todos os mapeamentos de impacto.  Podemos considerar este, portanto, um novo marco global na responsabilização pelos impactos na biodiversidade.  

O padrão GRI 101: Biodiversidade 2024 vem para atualizar e substituir o indicador GRI 304: Biodiversidade 2016. Ele foi desenvolvido por meio de um processo multissetorial, com consultas públicas, coordenado por um comitê de especialistas e em alinhamento global com o EFRAG (para a nova norma de biodiversidade da UE, a ESRS4), e também com TNFD, SBTN e WBA Nature Benchmark.  

Aposto que a pergunta que assombra empresas e relatores agora é: já comecei a coleta de indicadores considerando o 304/2016, o que devo fazer? Para responder, recorro ao Chico (Buarque <3): “Não se afobe, não. Que nada é pra já”. Como de praxe, as empresas terão dois anos para conhecer melhor o padrão antes de começar a adotar. Ou seja, sua aplicação passa a ser obrigatória para relatórios publicados a partir de 1º de janeiro de 2026 (até lá, teremos a tradução oficial ao português também).  

Só não vale deixar para a última hora! O que já vale é começar a estudar, se familiarizar com o GRI 101: Biodiversidade e, se possível, começar a adotá-lo no próximo ciclo, como forma de aprendizado, acelerando a curva de maturidade do padrão.  

 

 

Lilian Ribas
Sócia

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