Como conciliar carreira e maternidade (sem surtar!)

Existe vida em Marte? A IA vai tornar a vida melhor ou pior? O ChatGPT é uma ameaça à profissão repórter? Conseguiremos vencer a emergência climática? São tantos os dilemas existenciais que nos assombram diariamente, que confesso que nem sei como ainda conseguimos dormir, ou melhor, por que não temos conseguido dormir.  

Cada um de nós tem seu top 5 dos dilemas e eu faço aqui uma confissão: minha lista é encabeçada por um que, aposto, é comum a muitas mulheres malabaristas (as quais têm toda a minha admiração e empatia): como conciliar carreira e maternidade, de preferência sem surtar? 

Há quem diga que a palavra-chave é planejamento. Mantenha a rotina organizada, faça listas, adiante tarefas, separe umas horinhas do seu fim de semana para pensar no cardápio, preparar e congelar refeições saudáveis, olhar deveres de casa, providenciar aquela cartolina para o trabalho da semana (quem nunca ouviu num domingo à noite a temida frase: mãe, preciso fazer um cartaz pra amanhã). 

Outros apostam que o segredo são as redes de apoio. Tenha uma parceria de verdade ou, ao menos, funcional, peça ajuda, permita-se descansar e deixar as crias com avós, tios, padrinhos, amigos. Faça alianças com outras mães, forme um grupo de carona, e por aí vai. 

Isso sem falar naquele velho conto do vigário “trabalhe enquanto eles dormem”, primo do “durma enquanto eles dormem”. Garanto que já tentei os dois várias vezes e é sempre um fracasso. Além de não alcançar a inalcançável perfeição, a gente adoece ou se sente ainda mais incompetente, pois, acredite, bebês têm o sexto sentido de despertar assim que a mãe começa a cochilar. 

Os desafios são muitos e ainda nem colocamos a lupa cruel da desigualdade. Partimos de lugares distintos. Eu, mulher branca e privilegiada, tenho muito mais acesso a ferramentas para atravessar essa fase de conciliar trabalho e filhos pequenos do que uma mulher preta e em situação de vulnerabilidade social, por exemplo, que luta diariamente para prover o amanhã (literalmente) de seus filhos.  

O que a vida real tem me mostrado nos últimos quase 16 anos, quando entrei para o time das mães, é que não existe uma fórmula mágica. Cada uma tem a receita do seu bolo, que, convenhamos, muitas vezes não cresce, queima e fica ruim.  

Fazer esse bolo vingar não é fácil. A minha receita envolve um mix de tudo: planejar ajuda, mesmo sabendo que nem sempre, ou quase nunca (risos) as coisas vão sair como o esperado; rede de apoio é a coisa “marlinda” desse mundo, mas não é todo dia que conseguirmos acessá-la; a danada da culpa materna é real e nós mesmas ainda nos julgamos por terceirizar a maternidade, ainda mais se for para descansar, algo ainda visto como fútil ou desnecessário. 

 

Parece que o que era para ser uma propaganda de margarina sobre maternidade e carreira, acabou se tornando um bolo meio solado, que demorou demais a assar, mas que pode ficar uma delícia e salvar nossa vida. 

Se o dilema que tira o seu sono for “filhos, vale a pena tê-los?”, digo sem titubear, a partir da minha vivência: eu amo! São a melhor parte de mim e me ensinam a ser uma pessoa melhor – inclusive no trabalho. Se não for da sua vontade, tente se livrar da culpa e ignorar a pressão da sociedade, afinal, mulheres não são incubadoras e não têm finalidade reprodutiva! Caso queira ser mãe, meu convite é: pule na piscina, mas deixe a capa da Mulher Maravilha fora d’água. Com mais ou menos obstáculos, e de mãos dadas umas com as outras, vamos, juntas, aprendendo a nadar. 

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