O poder de uma história bem contada

Em uma repaginada recente no layout da BH Press este ano, me atribuíram uma tarefa: selecionar um trabalho com algum significado especial, que pudesse ser enquadrado e pendurado na parede. Escolhi o primeiro relatório de sustentabilidade que fizemos para um cliente (quando as publicações ainda nem tinham esse nome), em 2002, e que tem na sobrecapa uma foto do Sebastião Salgado. A imagem, me lembro bem, foi negociada com o Instituto Terra, que ele e a mulher mantêm para cuidar do projeto de reflorestamento em Aimorés (MG), onde o fotógrafo nasceu.

Com base nessa foto desenvolvemos toda a concepção gráfica do relatório na época. E foi também a partir dela – hoje um quadro na nossa parede -, que comecei a ser interrogada pela nossa equipe. Me perguntaram sobre o porquê da escolha, como começamos a fazer relatórios, o contato profissional que havíamos estabelecido com o Sebastião Salgado anos atrás, e que vinha de um projeto anterior de assessoria de imprensa, como criamos a conexão entre a imagem e o relatório proposto ao cliente, e por aí foi. A questão mais recorrente era por que eu vejo, neste trabalho, entre tantos outros em quase 30 anos de BH Press, um significado que vai muito além da foto da sobrecapa e do fato de ter sido o primeiro relatório.

Por aí seguiu a minha conversa com o grupo que reunimos na (re)inauguração do nosso espaço. A turma incluía profissionais que já estão conosco há quase um ano e ainda não tinham nos encontrado pessoalmente, nesses tempos de trabalho remoto.

A partir daquele quadro, falamos sobre o território onde as demais fotos haviam sido feitas e que coincidia com as cidades de nascimento ou dos tempos de universidade de alguns deles, rimos dos perrengues que passamos nesses locais e pulamos para outros projetos realizados. Conversamos animadamente sobre uma lista longa de experiências profissionais, muitas boas e outras nem tanto, e os muitos aprendizados.

Assunto vai, assunto vem e eu ouvi esta: “Eu não sabia que vocês já tinham feito tanta coisa, que reúnem tantas experiências f***, que conheceram até a escola onde eu estudei na infância”. Além de mais feliz ainda com a escolha que fiz, fiquei pensando que não há apresentação ou treinamento de boas-vindas capazes de superar o compartilhamento de histórias genuínas para nos conectar com os outros. E é por isso (também) que seguimos daqui valorizando o poder das histórias bem contadas.

 

 

Dulcemar da Costa
Sócia fundadora

 

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