Por que (ainda) precisamos de certas datas

O mês de março, que já está se encaminhando para o final, foi rico em marcos que nos lembram de equidade de gênero, mudanças climáticas e proteção às águas, temas fundamentais para organizações e – por que não? – para indivíduos e a sociedade comprometidos com práticas ESG (ambiental, social e de governança) e com a agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).  

Sabemos que essas datas, por si só, não resolvem coisa alguma. Porém, todo ano, elas pautam a mídia, entram de alguma forma nos assuntos do dia, nas nossas conversar e nos lembram por que precisamos falar sobre o Dia Internacional da Mulher (8 de março), sobre o Dia Nacional de Conscientização sobre Mudanças Climáticas (16) e sobre o Dia Mundial da Água (22). É nesse pretexto de “levantar a bola” que reside a importância desses dias. 

E mais do que falar sobre o assunto, é preciso fazê-lo com intencionalidade, pensando com quem precisamos conversar e como. No ambiente das organizações, se quisermos realmente utilizar o potencial que elas têm para promover transformações importantes, devemos encontrar meios de impulsionar esses temas, fazendo com que, a partir das áreas de Sustentabilidade ou de ESG (sigla para Ambiental, Social e Governança), eles alcancem os CFOs (Chief Financial Officers) e os Conselhos de Administração. 

Para isso, entender a linguagem desses interlocutores é fundamental. Se para a geração que ocupa atualmente cadeiras nas diretorias financeiras e nos Conselhos, olhar para a mitigação de impactos ambientais, sociais e para a transparência e a ética nos negócios ainda não é um princípio “natural” para a longevidade de qualquer empreendimento, vamos apontar os riscos de não o fazer. 

Ignorar esses aspectos, pode levar a organização a perder consumidores para concorrentes mais comprometidas com essas causas, a ter dificuldade de segurar talentos movidos mais por propósitos do que por um pacote de benefícios, como é característico da geração Z, e até a perder dinheiro de linhas de crédito com condições excepcionais para organizações que cumprem metas relacionadas à biodiversidade, à preservação de florestas e recursos hídricos e por aí vai – os chamados títulos verdes ou green bonds. 

Da mesma forma, abrir mais espaço para mulheres em cargos de lideranças – ou para negros, asiáticos, indígenas, pessoas com deficiência ou do grupo LGBT+ – mais do que incorporar a diversidade e a inclusão para “ficar bem na foto” significa contar com um espectro maior de pontos de vista capazes de conduzir a melhores decisões e à inovação nos negócios. E por melhores entenda-se também mais condizentes com a sociedade complexa dos dias atuais. 

Para se fazer ouvir pelos tomadores de decisões também é premente caprichar nos indicadores ESG para que dialoguem com o negócio, enfocando temas relevantes, permitido que sejam vistos como decorrentes das atividades e dos impactos gerados pela organização tanto quanto dados da operação e do financeiro. Do contrário, serão vistas como métricas de segunda classe, meros apêndices do negócio. Mas isso é pauta para outra conversa.  

O que quero lembrar aqui é que, em todo 8 de março, quando me perguntam se faz algum sentido ter um “Dia da Mulher”, eu respondo que sim! Acho importante, e isso vale para todas as demais datas relacionadas a causas éticas e socioambientais. E a razão é simples: (ainda) precisamos falar (e muito) sobre isso, buscando argumentos, fatos e dados, e utilizando de criatividade para ultrapassar cercas, barreiras, paredes e muros que nos ajudem a chegar além do nosso grupo de convertidos. Sem isso, vai ser mais difícil avançar nessas pautas tão importantes para a sociedade, para o planeta e para a vida desta e das próximas gerações. 

 

 

Dulcemar da Costa

Sócia

 

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